12 de março de 2010

Promessa

reparem bem na mudança do discurso:

quando eu estiver bom, vou ser muito mais forte do fui até agora (se não me matou, fez-me mais forte, como se diz).

hoje fiz uma promessa à minha Filha que tenciono cumprir, senão não a tinha feito. fizemos um acordo, que não vou tornar público e é para ir para a frente.

sei que tenho ainda muito que sofrer (também o hábito já nem liga a tudo o que se sofre), a luta vai ser intensa, há-de haver dias em que me vai apetecer fugir para o mais alto monte que houver, e essas coisas todas, mas também vai haver tempo para recuperar, para arranjar mais força dentro da pouca força que me resta, mas é dessa massa que se fazem os campeões e eu sou um campeão. no doubt about that.

de modos que, Miguel não tenhas pressa que eu seja avô, como sugeriste no outro dia. o tempo chegará.
e tu Mana ainda vais conhecer o irmão que só descobriste ao fim de quarenta (e alguns) anos, repara a gentiliza de não dizer a tua idade (ah! que belo mano) e hei-de ainda rir muito, que é uma das coisas de que eu mais gosto, e fazer rir os outros com as minhas palhaçadas.

amanhã, Paula - especialmente para ti que compreendeste a dualidade do teu primo-, vou ter uma conversa séria com o menino que não tinha brinquedos e vou-lhe pedir para me ajudar, já que ele é muito mais forte do que eu, ele é a fortaleza, eu sou a teimosia. penso que, entre os dois vamos vencer este bicho (afinal o que é um bicho comparado com um Homem de aço e sangue para o temperar?, nada, menos que nada). que achas?

quando não me encontrarem aqui já sabem que devo estar chorando para dentro, não se admirem, é e vai ser frequente, os outros dias será sempre com o meu sorriso ao canto da boca que hei-de "esparramar" aqui aquilo que me apetecer (afinal é isso que faço desde que comecei), uma patacoadas sem jeito misturadas com algumas coisas, embora poucas, com muito jeito, mesmo. sou eu.

vou esperar até ao fim para agradecer a todos a quem tenho que agradecer mas, posso fazer já um agradecimento do que se passou até aqui, não, não posso, seria injusto, fica para depois.

o meu Filhote, dizia há uns tempos, no maravilhoso blog que ele tem que eu "ainda não estava preparado para ir", não é verdade, conforme lhe respondi, estava, estou e estarei sempre, porque eu posso dizer que VIVI, só que agora quero mais quero dizer também que VENCI.

quem me conhece bem sabe o grau de exigência que tenho com quase tudo, a partir de agora vou tê-lo comigo sempre, e não só às vezes, desculpei-me a mim mesmo vezes demais (embora nunca tenha acusado ninguém por decisões que tenha tomado (não é verdade Filho?), também muitas vezes não fui justo comigo, assacando culpas que não me cabiam e continuando a minha viagem. de qualquer forma fiz tudo à minha maneira, embora contrariamente à canção, tenha alguns "regrets" que não renego mas que já passaram e portanto (M. de La Palisse) já foram.

estou muito emocional (sempre o fui) mas com veia para a "mariquice" mas vocês vão-me desculpar isso, como já me desculparam coisas muito piores, verdade? claro, por isso são Amigos. mas o estar emocional não tira um pingo da racionalidade da decisão que tomei, é nela que me fundamento, nela e no conhecimento dos limites do meu corpo e da minha mente (que me tem suportado bem o corpo, ela é mais forte.

por três (ou quatro) vezes caí no mais fundo poço que poderia haver na altura, estive de rastos, estive abaixo de cão, quase deixei de ser pessoa, pois outras tantas vezes comecei a minha vida do zero, ou menos dez, ou menos vinte, e levantei-me, umas vezes mais devagar, outras mais depressa (há pessoas que estão a ler isto que sabem que é assim tal e qual) mas levantei-me sempre, com ou sem ajuda, pus novamente a minha cara no ar, soprei a poeira e continuei. porque não fazer o mesmo agora, que nem sequer estou abaixo de nada, nem de rastos e tenho um milhão de Amigos a ajudar? nem parecia meu. mais, fico pasmo como tantas vezes pensei em desistir, eu, desistir!! onde andaria a minha cabeça?

amanhã, com ou sem mal estar, com ou sem enjoos (não sei se é assim que se escreve nem estou para ir ver, isto é "pena corrida"), com ou sem dores, garanto-vos que vou recomeçar a treinar o meu melhor sorriso para dar a cada um de vocês de cada vez que pensar em vocês e tentar manter o sorriso para mim (que também mereço) com que todos os dias vivia (sempre tão intensamente) esta vida que é MINHA.

a minha viagem ainda não acabou.

está decidido.

P.S. e mais: vou aprender a escrever direitinho para vocês gostarem de ler as coisas que eu entender postar aqui. "mai" nada.

9 comentários:

  1. Após ler o teu texto tive de tirar uns momentos para me recompor (essa tua sensibilidade que me passaste atacou-me), mas depois de limpar a cara e as gotas que se deitaram nos cantos do meu sorriso, consegui novamente começar a escrever...

    Agora... Eu ACREDITO que fiques bom!!! Mas só agora Pai... até aqui, sempre pensei que só começarias a ficar bom quando te propusesses a tal, e tanto tu como eu, entre outras pessoas que te adoram, sabíamos que estavas demasiado resignado à condição de "doente". Essa não é a tua condição Pai! Aliás, como tu próprio disseste, tu não és, nem nunca foste de desistir! É algo que não combina contigo. Daí que quando me disseste que estavas a pensar jogar a toalha para o ringue, ainda por cima na minha cara, houve um contentor de tristeza que me cilindrou e foi preciso muita vontade para não me desfazer em lágrimas e implorar para não o fazeres.
    Agora que te vejo renascer das cinzas pergunto-me se não foi apenas o teu meio necessário de te levantares e ergueres o queixo para o que vem aí.

    Quando tu estiveres ou bom ou nas proximidades, quero que me faças algo, quero também eu uma promessa!
    Quero a promessa de que vais comigo a Madrid... nenhuma data em particular, eu compro os bilhetes e trato de tudo, mas vamos só nós os dois (podes deixar a Alice descansada que não te vou chamar de TIO) dois diazinhos, passear e conversar (como eu sinto tanto a falta disso contigo Pai). Mana, temos tempo para fazer algo os 4...

    Eu se tinha qualquer tipo de pressa para te fazer Avô, era única e exclusivamente para te fazer sentir! Porque sentir é viver, seja de que maneira for... perdi essa pressa, aliás, temos muito para fazer antes de eu me poder tornar um pai também...

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  2. tu és a pessoa mais perto de mim, quer queiras, quer não. só a ti eu posso dizer determinadas coisas, e sempre fui honesto contigo.
    essa era uma das coisas que SÓ A TI podia dizer, porque sabia, ou pensava saber, que serias o único a compreender a dor, o sofrimento, e o cansaço que dá lutar contra uma coisa destas. lamento do fundo do coração que não tivesses poder de encaixe e compreensão para o momento que o pai vivia (e vive) na altura, queria que estivesses preparado para tudo, como deves estar sempre,e funcionasses de forma a poder amortecer o choque para outras pessoas, que eu sei que o farás, quando acontecer, à Alice e à tua Irmã.
    tu, e só tu Miguel, és o meu esteio, a trave primeira que segura as outras, mais fracas, é contigo que eu conto (NÃO TÃO CEDO) para amparares, mostrando a tua força, as outras mais fracas que, efectivamente gostam de mim e, possivelmente até de mim vão sentir falta durante algum tempo.

    não entendes que és tu, e só tu, o meu prolongamento? não consegues ver a minha projecção naquilo que fazes, porque o fazes e até como o fazes? não consegues vislumbrar que és tu, e só tu a única pessoa que eu gostaria de ter sido?
    não consegues perceber quanto eu preciso de ti?

    não me consegues entender, nos momentos de alegria como nos da mais profunda tristeza?

    então estás agora a ver o que é ser um Pai OBRIATÓRIAMENTE ausente, como eu fui (que raptar-te me "obrigaram" a fazer. entendes agora porque a tua mãe te pediu o meu nº de telefone para ter uma longa conversa (mais monólogo que conversa) para me pedir desculpa por tantas coisas?
    podes entender que sofri muito mais por não teres crescido comigo do que sofro agora com a merda do cancro?

    podes dar valor ao que perdi por isso? podes dar valor à cicatriz que está no meu coração? à ferida do meu peito que nunca irá sarar por não te ter dado tudo o que te queria dar? não estou a falar de coisas materiais, mas também.

    entendes porque no meu pior momento (esse que falas de"atirar a toalha ao ringue" era SÓ A TI que podia dizer isso? entendes porque não me podes culpar exclusivamente (devo ser o menos culpado, embora também seja) de teres uma "troubled mind"?

    não consegues vislumbrar uma pequena diferença, só uma e pequena, do que poderia ter sido e do que poderias ser, se eu fosse um pai presente? não consegues vislumbrar, aceites ou não, que serias ainda melhor do que a maravilha que já és?

    apesar de tudo Filho é contigo e SÓ CONTIGO que eu sou capaz de dizer e sentir coisas que não compartilho com mais ninguém?

    não sabes o amor que eu tenho por ti? Pai nenhum ama mais seu Filho do que eu, igual acredito, mais não.

    desculpa ter sido fraco, se é assim que o entendes, contigo, mas é só contigo que me posso mostrar tal e qual como sou e tudo aquilo que sinto.

    pronto, agora posso chorar mais m bocado para dentro que tenho mais duas pessoas mito importantes cá em casa, que também amo muito, mas para as quais SOU SEMPRE FORTE, TENHO QUE SER SEMPRE FORTE.
    e isso desgasta, dói, cansa, desmoraliza, desmotiva, destrói. e no fundo é pensando em ti que consigo resistir e mostar o que não sou, nem estou aos outros, que é FORTE.
    dsculpa Miguel, Filho querido.

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  3. com respeito a Madrid, esquece. oliveira é um sítio bom para conversarmos, como num post atrasado já te disse que tínhamos que o fazer.

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  4. peço-te desculpa Filho, no meu primeiro comentário o coração de alguns erros ortográficos e até palavras lá faltam.
    como nunca (ou quase nunca) releio o que escrevo, só agora dei por isso, mas dá para entender claramente a mensagem
    mesmo assim desculpa pôr tanto peso nos teus ombros, se a tua bisavó fosse viva eu não estava nem metade preocupado como estou, mas para mal dos meus pecados e da minha vida, não é. mesmo pensando nela, muito, no que me deu e no que de mim fez, e agradecendo-lhe todos os dias que o mundo à luz deita, só te tenho a ti agora para dividir o meu sofrer.

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  5. Diz a voz popular que "querer é poder". Eu acredito que tu queres, e isso é poder!

    E eu acredito na força do menino que não tinha brinquedos. Nunca mais lhe largaste a mão e compreendem-se mutuamente. E o menino que sempre lutou não vai baixar os braços, como nunca fez.

    SAAARA (foi a tua sobrinha que veio aqui escrever - sim ela sabe escrever o nome dela e escreveu com os dedinhos dela a palavra).

    Continuemos... perdi-me...

    vê se falas com modos com o teu Menino jesus.

    Beijos grandes e uma boa noite se possível.

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  6. Paula, continuo tão longe das divindades como estava antes. acho e sempre achei que Deus era muito ocupado para tratar caso individuais.
    se Ele (respeito) erradicar a Fome, a Doença, a Guerra, a INJUSTIÇA, depois conversamos sobre isso. valeu?

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  7. Bom, quando falei do TEU Menino jesus, fazia apenas uma alegoria ao poema que te deixei à uns dias de Feranado Pessoa.

    Aliás, não podia estar mais de acordo com a tua afirmação acima.

    beijos

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  8. Paula, eu entendi a tua referência ao poema que me enviaste.

    Fico feliz e grato por tu também entenderes as coisas que eu digo. só te apanhei naquela do "livrinho", já valeu a pena.

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