pra onde eu for
tudo será novo
um mundo acabado de criar
com meia dúzia
se seres parecidos
e mais uns quantos
muito diferentes
e
novas montanhas
para escalar
rios para atravessar
pedras rolantes
do cimo dos montes
perigosas de morte
para fugir
e haverá bichos
bichos para caçar
peles necessárias
para tapar o frio
que só se conseguem
lutando
e
fugiremos para as cavernas
guardando o saque
que dá poder
e lutaremos
com o peito
com as mãos
com os dentes
com as unhas
mas sim
lutaremos
a chuva cairá
dias a fio
granizo do tamanho de punhos
e o sol
queimará
o que restar da chuva
e muito para além disso
e
cada vez haverá menos
de nós
só os mais fortes
sobreviverão
não inventaremos
regras
nem leis
nem mais nada
que a violência
então
tudo estará em mim
e
terei finalmente
BRINQUEDOS
2 de março de 2010
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Para onde tu fores
ResponderEliminarencontrar-te-ei um dia
e subiremos os montes
de mãos dadas
e correremos nas planicíes
como novamente crianças.
Vais construir de novo
um carro de esferas
para eu me sentar e andar
sem preocupações
porque já não me posso magoar.
Para onde tu fores
as árvores estarão
sempre vestidas
porque não existe
verão ou inverno
é sempre primavera.
Para onde fores
espera por mim
porque te irei procurar
e sei que tu
estarás à minha espera...
Inscrição
ResponderEliminarQuem se deleita em tornar minha vida impossível
por todos os lados?
Certamente estás rindo de longe,
ó encoberto adversário!
Mas a minha paciência é mais firme
que todas as sanhas da sorte:
mais longa que a vida, mais clara
que a luz no horizonte.
Passeio no gume de estradas tão graves
que afligem o próprio inimigo.
A mim, que me importam espécies de instantes,
se existo infinita?
Cecília Meireles, in 'Retrato Natural'
Poema para Iludir a Vida
ResponderEliminarTudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória
está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"