18 de fevereiro de 2010

Olá, boa noite. 12;53 horinhas.

raspava a tromba pela fronha da almofada, para um lado, para outro, outro ainda e nada. e nada de dormir, porque no que respeita ao resto, estamos conversados: os dentes que nem aguilhões quando se leva os bois para a feira,picando, ferrando, aguilhoando as pobres gengivas que não se podiam defender, senão com laivos de sangue que sabe mal, os intestinos criando cólicas com artes de torturadores para quem não tinha nada para saír, dois pés de que já me esqueci há não sei quanto tempo, a não ser que os esfregue vigorosamente um no outro até que algum pedaço de pele se levante, um esqueleto que não está bem sentado, deitado, de pé e, vejam lá, nem recostado e, acima disso tudo a cabeça, que parece que é onde tudo começa e acaba, que em tudo manda e onde se vão buscar as coisas de que necessitamos (ou não).

esta cabeça que já vou começando a abominar quando em tempos gostava tanto dela, que não pelos cabelos mas pelo que tinha lá dentro.

foi essa cabeça que me fez levantar e vir ver a noite, minha fiel companheira de tantos bons tempos e que agora até está contra mim porque é grande, grande, grande e inimiga...

espero que a a minha colega Lídia não tenha ficado zangada com o telefonema de hoje. ela e mais umas (muito poucas, mesmo muito poucas para aquilo que eu podia imaginar) pessoas
 que se interessam verdadeiramente, que quando dizem tens que ter calma, tens que ter paciência, tens que ter sei lá o quê, vais ver que isso vai voltar ao normal, tens que ser forte para vencer que te quer derrotar, eu sei lá mais o quê, ainda não perceberam que não é como a gente quer, é como a gente pode. (escrevi bem?).

hoje foi MAIS um dos IMENSOS dias em que caí mesmo lá no fundo, onde nem raízes há para nos agarrarmos, como nos filmes, era só areia e pedras muito finas que entravam pelas mãos quando eu queria fazer força para me levantar, levantei os olhos mas luz foi também coisa que não vislumbrei e deixei-me cair de costas a ver se recuperava fôlego. no fundo à espera de mais um milagre, como têm acontecido nos outros dias perecidos.

horas, muitas horas, se passaram, estão ainda a passar, continuo deitado de costas no fundo desse buraco e só um tipo de pensamentos me enche o vazio de não pensar: estou farto.

estou cansado, não sei sequer se vale a pena retomar o fôlego e tentar arranhar as paredes deste buraco. toda a vida quis conhecer os meus limites, ei-los que me aparecem, a uma luz crua e fria que não dá qualquer hipótese de engano, estou nos meus limites reais.

alturas houve em que pensei estar na mesma situação limiar mas não estava, porque consegui, não sei de onde, um forçazinha suplementar que ainda me conseguia levantar e continuar, como sempre o fiz, mas esses não eram os meus limites reais.

porque na verdade não sei se quero lutar mais, se já não perdi esta batalha que decide a guerra, porque é a derradeira

os poucos que me conhecem a sério sabem do que estou a falar e sabem que o faço com plena consciência do que digo. não levem a mal eu não QUERER lutar, ter esperança, paciência, força, eu sei lá o quê.a verdade é que sinto aqui por dentro, onde deve dormir a Alma, acontecer alguma coisa estranha, estará ela a acordar e a preparar-se para a partida?

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