14 de janeiro de 2010

Resposta a Garcia

Mais um bocadinho era "Carta a Garcia".

És um maroto, só hoje ou ontem, já não recordo bem, soube quem tu és.

Obrigado pelo teu comentário e pelos votos de uma viagem de sucesso, repara no entanto Vitor que a minha viagem seja qual for o fim ou a duração já é uma viagem de sucesso. Eu tenho uma leve impressão (tenho a certeza) de que já dei resposta, mas como sou um nabo nestas coisas, duvido que ela te tenha chegado, assim sendo, e como sempre preveligiei e hei-de continuar a preveligear (é com g ou j ?)os amigos, vou ter a certeza de que esta resposta só não lês se não quiseres.

Parece-me que estás a simplificar bastante a viagem. Ela não se resume a chegar (absurdo) ela é o princípio, meio e fim, ela justifica-se a si própria, e não esqueças a Viagem é a Vida e há só uma e é "para valer".

É na viagem que enches os olhos, que captas sentimentos, que dás e recebes, que juntas e divides. É na viagem que se formam conceitos, que se fundamentam atitudes, que se justificam os actos.

Todos sabemos como começamos a viagem, nús e a chorar, todos sbemos como a iremos acabar, frios e despojados, então onde está abeleza senão nos encantos que a viagem nos pode trazer, dure ela quanto durar, tenha ela a direcção e o sentido que tiver.

A viagem traz ao cimo o melhor e pior de nós, estripa-nos para todos verem e aceitarem ou não de que metal somos feitos, mas a viagem é sobretudo para nós, porque ela é nossa e só viaja connosco quem nós quisermos. Logo o primeiro aceitante da viagem como descoberta somos nós mesmo, é a nossa aceitação (ou não)daquilo que somos, que poderemos eventualmente vir a ser e do que nunca seremos, com todas as implicações humanas (ia dizer morais, éticas, etc)que iremos enfrentar.

Vês porque - para mim - a viagem não se resume à chegada ao destino?

Agora estou cansado, retomei hoje a quimio e tenho aqui uma bomba agarrada ao cateter, exteriormente, a debitar 2ml/hora de uma droga que não sei como se chama, mesmo assim vou resumidamente dizer-te porque a minha JÁ É UMA VIAGEM DE SUCESSO, não pensesque estou "cagando" de alto porque é mesmo assim. Aliás tu já me conheces há muito tempo e sabes que eu nunca fui disso.

A minha viagem teve quatro ou talvez cinco enormes paragens forçadas, daquelas a que se pensa não resistir mas sim desistir. Nunca o fiz, fui sempre arranjar a minha força, juntei e, mal ou bem, colei os meus bocados, umas vezes tive ajudas, outras não, mas consegui voltar a cavalgar o vento e voar em direcçaõ à luz. Não foi fácil. Vez nenhuma foi fácil, quanto mais para o fim (tantas vezes!) mais difícil se tornava.

Esta é mais uma paragem forçada, mais uma queda a que vou tentar resistir,
mais uma colagem dos meus bocados, mas estranhamente não está a ser tão dífíl quanto as outras e porquê, perguntarás tu se tiveres lido até aqui, o que eu acho um acto heróico (porque é que eu nunca consigo deixar uma piada de lado?????).

Eu digo-te Vitor, para mim a minha viagem está completa, vi, senti, dei recebi, conheci gente linda até às estrelas, gente boa até ao infinito, fui eu sempre, sempre, sempre, poucas concessões ou cedências me levaram, tive alegrias com que nunca consegui sonhar, tenhos feridas que não hão-de sarar nunca, amei muito, odiei também, por vezes chorei por vezes meus olhos eram tão tristes que nem lágrimas consegui verter, comi e bebi bem, passei fome e frio, dormi em lençois de seda e embrulhado em jornais sob bancos de jardim, de tudo se fez a minha viagem e é um sucesso eu poder falar nela. Sucesso maior dois filhos queridos como mais não podem ser, mas esse fazem parte de outra mensagem.

Abraço ainda forte do Amigo.
Ulisses

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