20 de janeiro de 2010

Levantamento de suspiros

Da minha janela (desta onde estou) vejo um monte de casario, prédios grandes, médios e pequenos. Vejo um montão de telhados (moro muna zona alta) duas ou três ruas, um jardim, um mamarracho a que chama Praça da Cidade, emfim, que demorou mais de 4 anos após a data prevista de conclusão, etc. Vejo muitas coisas, oiço muitas coisas e sinto muitas coisas.

Hoje pus-me a fazer um exercício (leve) mental sobre as pessoas dessas casa e ruas, e tudo isto por causa da neblina que esbate um pouco os contornos da minha vista, mais cedo era pior, agora já nem tanto.

Parece-me que que os suspiros são a causa da neblina, e vice versa, ou seja, sei que estão relacionados e vou tentar descobrir como, durante esta manhã, ou talvez amanhã, ainda não sei.

E que suspiros? Não, não são esses deliciosos bolos branquinhos (cá para mim todos os suspiros são brancos) que me passam tão raramente pelo goto. São aqueles suspiros que vêm do peito, atenção, eu disse peito mas nem sequer é isso, é mais uma questão bronquial e ombreira (dos ombros, pois sempre que alguém suspira encolhe os ombros, como se isso fosse inerentemente fatalista).

Porque suspiros a sério vêm da alma (os únicos que não são brancos, são translúcidos) e são esses que me importam.

Quantas pessoas suspiram sózinhas, nessas casas de que falo, nessas ruas que vislumbro? De onde vêm os seus suspiros e o que os faz existir?

Serão esses suspiros aparentados com os que, bastas vezes, vou eu mesmo deixando escapar aqui sózinho à janela onde tenho o meu amigo computador? Será que a razão desse suspirar é a força que faz levantar a neblina? Que força emana desses suspiros? Para que servem? Sei que nada resolvem porque a dor continua, apertando à sua medida, ora mais devagar, ora com mais intensidade, mas continua lá, amiga como mais nada nem ninguém, a dor é boa companheira, faz-nos sentir vivos( ou vegetantes?)

Conheço algumas pessoas nessas casas que suspiram como eu, do fundo da alma, e têm razões para o fazer, peço que não me levem a mal estar a comparar-me com elas, a não ser no suspirar, pois umas não estão tão mal mas outras estão ainda pior que eu. Muito pior.

Cada suspiro tem uma carga emocional. Já topei. É como se um fio de abandono nos deixasse mais sós e largados a uma sorte que nem procurámos, mas a que estamos destinados. É como se fosse inexorável, um caminho que, com mais ou menos subidas, com mais ou menos curvas nos há-de levar onde quer.

Então para que porra suspirar? Embora eu só dê conta de o fazer depois de o ter feito, o suspiro não avisa, impôe-se. De que serve esse suspiro que vem cá de dentro, sem encolher de ombros, mas sofrido e sentido como tal, num vagarzinho que me irrita, como se dançasse uma qualquer valsa a seu belo tom?

De que serve, senão para levantar a neblina, a não ser para me castigar obrigando-me a fazer e sentir coisas que eu não quero? Pensará o Sr. Suspiro que é uma câmara mágica que tem obrigatóriamente de me fazer recordar tudo o que foi, é e será mau na minha existência? Quem lhe deu tais poderes?

Que será que o suspiro quer que faça com ele? Suspirar junto? Não. Dói em demasia.

Vou parar de suspirar.

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