13 de março de 2010

Impressionante

é impressionante a forma e o conteúdo do que as pessoas dizem em relação à minha doença.
eu sei que mudou muita coisa (quem melhor do que eu o saberá?), desde profissional, financeira, social e até familiarmente. mas ter "dó de alma de uma coisa dessas acontecer a uma pessoa como tu", vai uma distância grande, enorme. e também é giro a forma como as pessoas, quase todas, evitam o nome da doença, se fosse uma espandilose, uma cirrose, uma perna partida, não havia problema, mas parece, nem parece, tenho a certeza de que evitam dizer cancro, não vá o bicho aparecer-lhes a eles.

isto vem na sequência da manhã "desportiva" que fiz (ver outros a jogar à bola), como previa estava muita gente para tagarelar (entretanto o sol apareceu e amenizou um bom bocado o frio), assim, fartei-me de dar à língua, entre outras coisas respondendo ao que me perguntavam sobre consultas, tratamentos, eu sei lá.

eu sei que, de repente, o céu me caiu sobre a cabeça mas, como de costume, tive uma sorte danada porque só acertou de raspão e, assim posso fazer um curativo, senão, pumba, lá ia eu (o que diga-se em abono da verdade era uma peninha para algumas pessoas).

avancemos.

na realidade, mais do que simpatia, comiseração, constrangimento,alguns até amargura, pelo meu estado -que já foi um zilião de vezes pior-, o que o pessoal tem mais é MEDO que também lhes calhe a elas (e é engraçado notar que a maioria pensa mesmo, seriamente, que não falando das coisas, ou chamando-as pelo seu nome, elas não LHES  acontecem).

enfim, passemos adiante. o zé mókia apareceu cá, uma vez mais fui chatear o homem para me arranjar alguma coisa aqui em casa, porque eu tenho máquinas para tudo (bons tempos em que as podia comprar e ainda bem que o fiz) mas não sei fazer nadinha de nada, então valem-me os Amigos. tivemos uma boa charla, como sempre e passou-se um bom bocado. ora aqui está uma coisa de que eu preciso muito, é de passar "bons bocados" (se forem inteiros, melhor). sempre fiquei com mais um bocadinho de força.

1 comentário:

  1. Na realidade, talvez eu seja um pequeno universo demonstrativo dessas pessoas. Se tenho medo que me calhe a mim? Tenho e ENORME!
    Constrangimento em perguntar às pessoas se tão melhores ou não? Tenho, com certeza. Não sei bem a certeza se as pessoas querem responder a essa pergunta ou se por momentos querem esquecer que o "têm", se faço por simpatia, como um simples "como está, tudo bem?".

    Infelizmente, nos últimos anos, assisti á doença em pessoas familiares ou não. Mas a minha postura nunca foi de comiseração, mas sim de ajudar a tornar o fardo menos pesado em tudo o que me foi possível.

    Eu dou sempre o crédito à vitória, nunca baixo os braços. Nem eu quero que baixes os braços, embora saiba e compreenda que é muito difícil.

    Creio que as pessoas não estão malucas, mas o facto de te perguntarem se estás quase a ir trabalhar, é uma forma simpática de dizerem que estás com melhor aspecto ou fazem indirectamente a pergunta de "como vai indo isso"?

    Na verdade, eu também evito a palavra cancro. Pelas razões atrás já citadas e porqe me faz uma "comichão" enorme dize-la. Não te sei explicar o porquê. Tradição de não mencionar a palavra? Não sei. É uma palavra tão temível de dizer por aquilo que acarreta que as pessoas se inibem de menciona-la, plo menos às pessoas que estão a passar por isso, talvez na tentativa de não as recordar

    ResponderEliminar