25 de fevereiro de 2010

resposta a Fernanda II

conforme prometido, só mais um bocadinho, não posso chamar continuação, mas é quase como se fosse.
não te esqueceste?
daquele curto pedacinho que serpenteia entre a alvorada e a manhã, em que todos os sonhos, para além de serem permitidos são obrigatórios
daquela gota de chuva, primeira ou última, escorrendo sozinha no vidro da janela traçando arabescos que nunca conseguiremos copiar e de onde não conseguimos desviar o olhar
do ruído do trovão que mesmo sem queremos nos dá uma dimensão irreal
daquela música celta que de repente nos entra devagarinho nos ouvidos e provoca um sorriso triste e tão agradável
do dedo molhado na boca tentando adivinhar a direcção do vento como se isso tivesse qualquer importância cósmica
da mão cheia de nada que se enche de ternura ao passar na cara de alguém que sofre
de conseguirmos apesar de tudo ter um pouco de compreensão para aqueles que sabemos nunca irmos compreender
dos loucos que nos fazem profecias onde põem tudo o que têm, o seu coração
dos seixos que atiramos à água parada contando os saltos que dão
daquela luz que vislumbramos muito por acaso e tão raramente nos olhos de certas pessoas
da calma do mar a seguir a uma tempestade da qual chegámos a ter medo
do medo vencido
da esperança reencontrada
dos muros caídos
das pessoas libertas
e da felicidade de poder ser feliz crónicamente
Um beijo do Ulisses cuja felicidade aguda é poder responder (atabalhoada e insuficientemente) às coisas que tu consegues criar.

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