21 de janeiro de 2010

Retocar o perfil com o meu menino.

há já dois ou três dias que mal me fala. não me parece, tenho a a certeza, anda a evitar-me. paira suavemente, não anda, não vai de encontro às coisas, como eu, tamborila com as pontas dos dedos das mãos uns nos outros, deve ser o formigueiro, horrível de aguentar.

há pouco descobri-lhe um esgar mal disfarçado (o disfarce nunca foi a sua maior "virtude" -?-) e não levou a mão ao local, antes o antebraço direito passou discretamente duas ou três vezes, como se uma comichão, sobre a zona do fígado, já não me enganas, há muito tempo que te conheço. tás com dores. porra asssume, faz como eu, queixa-te, diz asneirada da grossa, sopra para fora, diz merda mesmo que baixinho...

nã, não anda bem disposto ou tem alguma coisa que quer evitar dizer-me, já vamos ver, dou-lhe mais um bocado de corda e depois puxo, a ver se resulta.

saca de um cigarro após uma sandes de queijo da serra, ele sabe que tem que comer, mas também sabe que não deve fumar,olha p'ra mim de banda e encosta-se à janela da cozinha, baforando devagarinho. é giro como ele agora faz quase tudo devagarinho...

-que é que queres? ouvi entre o sussuro e a ausência de som.
-falar, disse eu do mesmo modo.
-e se fosses cagar, não era melhor? palerma!!!

fiquei um pouco na defensiva com a virulência de tal ataque, aqui havia água no bico, seguramente.
-palerma porque (não, não é porquê)?, resolvi perguntar após uns dois minutos de baforadas. e porque não me apetecia cagar, diga-se.

 mais um silêncio e uma beata jogada para a rua (onde ninguém passava).
-e queres ver que não sabes!!! desta vez o menino levantou a voz uns decibéis para além do sussuro.
-não consegues dormir, tens dores, estás maldisposto, queres matar todo o mundo e arredores, achas que já não fazes parte de merda nenhuma a não ser dar trabalho, eu sei lá as merdas que tu para aí tens, mas acordas ás 4 ou lá o que foi, da matina, vens ver os teus mails, encontras um que não vale um peido, e pões-te, com mariquices e esquecendo tudo o que tens, a COMENTAR aquela merda, como se tivesse piada!!! tu és burro não só de agora como diz o cunhado Adriano, és burro de há muito.
 mais de duas horas a escrevinhar borradas que não têm piada, a que ninguém vai ligar (se é que alguém vai sequer ter o trabalho de ler) e estava tudo bem contigo, NESSA ALTURA NÃO TINHAS CANCRO?NÃO TINHAS DORES, NÃO ODIAVAS O MUNDO?ERA MAIS IMPORTANTE TIRAR OU DAR A ALGUÉM UM POSSÍVEL SORRISO? ora vai apanhar no cú para ver se as feridas cicatrizam.
ele, hein!.

os meus olhos mantiveram-se abertos todo otempo que durou este tão feroz ataque, e mais se abriram quando ele acabou, já que, acabadas as palavras as costas foram o que dele me restou... é pá, a coisa tá brava. o menino quando deu por ele estava A GRITAR comigo!!!!

de súbito voltou atrás, tão suavemente como se não se tivesse ido embora e, baixinho, perguntou:

- que merda é que queres mudar no perfil?
suspirei também baixinho, para ele não notar, o que não fui capaz de fazer e lhe arrancou um sorriso tão breve que só eu o podia tervislumbrado. - temos conversa, compreendi e, por isso, me alegrei um pouco.era bom, é sempre bom conversar com o meu menino que nunca teve briquedos. ele diz que é a minha "consciência", um nome que acho pomposo e deslocado porque le nem sempre está presente. mas....

-não sei, respondi com verdade, estava à espera que tu soubesses, ou que tenhas dado por alguma mudança em mim que o justifique.

-olha, primeiro sou contra essa cagada que andas a fazer, disse-o tão baixinho que tive dificuldade em ouvi-lo, está cansado, ele está muito cansado. problemas a estibordo..- depois, continuou sempre baixinho, não alcanço nem a motivação nem o aproveitamento, antes te vejo a definhar no corpo, a aumentar as dores e agora a comprar guerras, não sei se não deverias acabar com essa porra, portuguêsmente falando, e ainda, lembras-te dos concursos? -e ainda? era o tal de não interessa o nome dele, para mim é peidófilo, sim peidófilo, não tens queda nenhuma para isso. queres mais?

fiquei a pensar se queria mais, se haveria de reabater alguma coisa , se ele tinha razão e, finalmente, o que é que EU queria.

foi dar uma volta até à sala, sem acender a televisão, tá enjoado de televisão, ouvi-o sentar-se no sofá, no meu sítio, e ruminar qualquer coisa que não entendi mas também não me atrevia a perguntar. resolvi esperar. devagarinho, como quase tudo o que ele faz.

a gata apareceu e roçou-se pelas minhas pernas até se sentar em cima do meu pé esquerdo. e ali ficou, não soube se era para me animar, para me apoiar ou se se estava nas tintas (como sempre) sobre o que se passava. ficou ali muito tempo e eu deixei, porque estava quentinha, enquanto eu escrevia no computador. chateou-se da posição, deu um pequeno e suave salto e lá foi ela fazer a ronda da casa e arranhar tudo o que são ´sofás...

-TAMBÉM PODIAS TER APRENDIDO A ESCREVER, NÃO PASSAVAS TANTA VERGONHA, COMO SE TU A TIVESSES...

aqui até me assustei. vindo da sala, tronitruante, mais com medo que eu não ouvisse do que por qualquer resquício de zanga (seria?), uma , pensava eu, última consuderação que eu não podia de forma alguma não tomar à letra. afinal ele sabia o que é que eu queria. o mundo já não era tão mau, súbitamente.

nada disse. primeiro para ver ser havia mais, segundo porque sabia que ele tinha razão. parece-me que vamos ter conversa. ouvi o clique da TV, já estava chateado do nada em que tinha mergulhado, iria assistir a qualquer coisa que o não fizesse pensar, ouvi novamente o clique da TV, tinha regressado ao nada, afinal é lá que ele se sente menos mal.

-ó pá, disse eu em voz normal, e se falássemos?

-outra vez? de quê e para quê?. merda, como ele me sabe sempre deixar desrmado.

- de tudo, de nada, de alguma coisa, mas falássemos... a ninha voz ia sumindo à medida que lhe propunha uma conversa. não acreditava ainda na disponibilidade dele, quase mas ainda não total e depois tinha receio do que poderia ouvir, para onde poderia derivar a tal conversa apenas para mudar o meu perfil, coisa simples, pensava eu..

-NÁ. não estou para aí virado. vai comer qualquer coisa e depois logo se vê. pronto, agora sabia ser final, só, talvez, da parte de tarde lhe arrancasse alguma coisa, que ele iria sentir como se fosse o coração, a medula, ou outra coisa qualquer que fizesse dor e a que ele se queria resguardar, porque no que respeita a dor ele é especialista, até arranjou algumas de outras pessoas e tomo-as como dele. já sei que não vou levar vantagem.

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